Em 2020, 20 centavos não têm o mesmo peso de sete anos atrás
Publicado em: 11/3/2020por Fernando Duarte
Foto: Montagem/ Bahia Notícias
Em junho de 2013, milhares de pessoas tomaram as ruas de São Paulo para protestar contra o aumento das tarifas de ônibus na maior cidade do Brasil. O efeito cascata gerou mobilizações em diversas partes do país, inclusive em Salvador. O movimento foi marcante e gerou uma onda apelidada de “O gigante acordou”. O gatilho foi um reajuste de R$ 0,20 na passagem de ônibus da capital paulista. “Não são só 20 centavos”, bradavam à época. Tanto não era que, passados alguns anos, aumentos da mesma cifra não geram qualquer manifestação, de quem quer que seja.
Salvador, por exemplo, terá uma nova tarifa a partir desta quinta-feira (12). E o reajuste será de 20 centavos, tal qual o início de tudo em junho de 2013. É certa que a estratégia utilizada pelo prefeito ACM Neto, de preparar o terreno, encontrar justificativas e fingir preocupação com a população que utiliza o transporte público funciona. Mas não é apenas uma questão de estratégia política. Há um quê de desmobilização, somado a interesses latentes de 2013 que deixaram de encantar quem foi às ruas àquele instante. Depois de muito pedir, a massa que esteve em protestos perdeu um pouco da fantasia idílica que tudo ficaria melhor.
O aumento idêntico ao que gerou a intensa mobilização naquele ano é uma prova de que a capacidade de crer em si enquanto efeito transformador deixou de ser parte do dia a dia do soteropolitano – e do brasileiro. É como se houvesse um estado de êxtase tão alto que ficamos inertes frente ao que propõe o Estado brasileiro como um todo. Seja o município, o estado ou a União. O que gerou uma onda de protestos no passado não gera nem uma marolinha alguns anos depois.
Não que esteja incentivando protestos ou mobilizações contra o reajuste da tarifa. Estou apenas constatando que os 20 centavos de 2013, definitivamente, não tem o mesmo peso agora. A prefeitura de Salvador confirmou o aumento, os ônibus vão amanhecer nesta quinta com a nova tarifa e seguiremos a vida, como se nada tivesse acontecido. Sem muita reclamação, apenas aceitando tudo. É uma consequência do descrédito que temos nas instituições – incluindo o próprio povo. Se bem que as instituições estão funcionando, né?
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