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Pandemia traz incertezas para festas literárias e frustra previsão de crescimento do setor

Publicado em: 08/8/2020

por Jamile Amine / Ailma Teixeira

Pandemia traz incertezas para festas literárias e frustra previsão de crescimento do setor 

Foto: Divulgação

Com alguns eventos emblemáticos já consolidados no calendário cultural baiano e a criação recente de novas iniciativas, o cenário para as feiras literárias no estado era dos mais animadores para 2020. A pandemia do novo coronavírus, no entanto, frustrou as perspectivas, levando várias delas a cancelar, adiar ou modificar drasticamente sua configuração diante das incertezas do futuro próximo.

 

Em 2019, a secretária estadual de Cultura, Arany Santana, projetou a realização de 25 eventos para este ano (veja aqui) e a Fundação Pedro Calmon (FPC), vinculada à Secult-BA, anunciou o interesse em apoiar iniciativas de escolas baianas neste sentido (saiba mais). Os esforços, por meio de políticas públicas, parecem ter tido efeito, pois um levantamento da Diretoria do Livro e Leitura da FPC aponta que 30 festas literárias haviam sido catalogadas para 2020, distribuídas em diversos territórios de identidade.

 

 

Sem uma perspectiva concreta a respeito da possibilidade do fim do isolamento social, entretanto, esta conjuntura favorável segue em suspenso. “Com a pandemia, praticamente todas as festas literárias foram suspensas. Algumas delas, em torno de seis ou sete, têm tentado — e digo que está em tentativa porque não há nada consolidado — migrar para o formato virtual”, explica Zulu Araújo, diretor da FPC, órgão responsável pela preservação e divulgação de acervos documentais, além do estímulo e promoção de atividades relacionadas às bibliotecas e arquivos. 

 

“Na verdade, todo mundo está inseguro. Festa literária sem você ter aglomeração, o aconchego, a conversa, o abraço, o diálogo, ainda nós não temos na nossa cabeça. Então, a verdade é que é uma coisa nova para todos nós. Acho que temos que admitir que não sabemos ainda como resolver essa questão, sem que antes tenha uma orientação do campo da ciência”, avalia Zulu, pontuando, por outro lado, que após este período crítico a retomada dos eventos literários deve ser ascendente na Bahia. 

 

Com o objetivo de traçar um panorama do atual cenário, o Bahia Notícias apurou os preparativos de alguns eventos literários realizados no estado nos últimos anos e que estavam programados para ter uma nova edição em 2020. São eles: a Bienal do Livro de Salvador, Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), Festival Literário Nacional (Flin), Feira Literária de Canudos (Flican), Festa Literária de Uauá (Fliu), Festa Literária Internacional da Praia do Forte (FLIPF) e Feira Literária de Mucugê (Fligê).

FLICA


Foto: Ricardo Prado

Entre os eventos mais tradicionais no calendário baiano, a Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica) completaria 10 edições em 2020. Mas com as medidas de distanciamento impostas pela Covid-19, a realização do evento, que tradicionalmente ocorre em outubro, não está definida. O coordenador-geral da Flica, Emmanuel Mirdad, disse que a equipe ainda discute as possibilidades para este ano. A decisão será anunciada até o fim deste mês.

 

 

BIENAL DO LIVRO


Foto: Igor Santos / Secom

Realizada pela última vez em 2013, a Bienal do Livro Bahia chegou a ser anunciada pelo prefeito ACM Neto para os dias 4 a 13 de setembro, no Novo Centro de Convenções, em Salvador, como a “maior de todos os tempos em todo Brasil” (relembre). A data estipulada se aproxima, mas a reconfiguração do evento segue em aberto.

 

“A definição da data vai obedecer muito ao comportamento da Covid, com relação ao estágio que ele está, para que nós possamos realmente receber esse evento aqui, que é um evento que vai ter que contar com aglomeração de pessoas, e não pode ser feito neste momento”, explica o secretário municipal de Cultura e Turismo, Pablo Barrozo. “Fazer esse planejamento com tanta antecedência seria irresponsável da nossa parte. A vontade da prefeitura, a vontade da Secretaria de Cultura e Turismo, a vontade da GL Eventos, que é quem faz a gestão do Centro de Convenções, é que a próxima Bienal do Livro seja em Salvador, mas nós não sabemos a data. Estava para agora no meio do ano, mas foi adiado, e a gente vai adequar ao momento melhor para a bienal”, pondera.

 

Sem confirmar, mas também não descartando a possibilidade de realização em 2020, Barrozo estipula que entre setembro e outubro a prefeitura terá “uma maior clareza” para bater o martelo sobre a data da Bienal do Livro. “Realmente é um evento grande, precisa de planejamento, e a gente está ganhando um tempo”, diz o secretário.

 

 

FLIPELÔ


Foto: Reprodução / Facebook

Com a quarta edição programada para o mês de agosto e posteriormente adiada para dezembro, por causa da pandemia, a Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô) também não tem uma definição.

 

“Normalmente, desde o nascimento da Flipelô, a gente promove em torno do dia 10 de agosto, que é o aniversário de Jorge Amado, mas quando a gente viu esse cenário da pandemia se estabelecer, até pra gente planejar as coisas, a gente acreditou que seria impossível isso acontecer e resolveu adiar para dezembro, de 9 a 13 de dezembro”, explica Angela Fraga de Sá, diretora executiva da Fundação Casa de Jorge Amado, responsável pela realização do evento.

 

“O nosso sonho é que a gente consiga realizar nos mesmos moldes, tomando as devidas precauções que são necessárias, ocupando os espaços do Pelourinho, fazendo com que as pessoas circulem, porque essa é a verdadeira essência do evento, a gente levar a literatura para o espaço do Pelourinho, para que as pessoas passem a frequentar aquele espaço, que conheçam as instituições que nunca tiveram oportunidade de ir. Mesmo a pessoa que mora na cidade, às vezes, tem o mote da festa para ir visitar, e não só os turistas, que normalmente já vão”, pontua Angela, destacando, no entanto, que os organizadores estão “numa incerteza muito grande” por não saber se haverá condições sanitárias para a realização da festa e lembrando que os próprios convidados estão inseguros em viajar. “Está todo mundo com muito receio disso, então, se a vacina acontecer agora em setembro, a Flipelô acontece igual, mas se não acontecer o que a gente pode pensar é trabalhar de alguma forma virtual pra não perder o calendário do evento”, explica.

 

Caso seja descartada qualquer possibilidade presencial, segundo Angela, a ideia é fazer algo pontual, com menor duração, em dezembro, para marcar a edição 2020. “A gente poderia chamar alguém pra fazer uma live, comemorar aquela data, falar do nosso escritor homenageado, que é Graciliano Ramos, de algum jeito. Agora, obviamente não é o mesmo projeto, seria só uma coisa mesmo simbólica de naquela data a gente estar lembrando da Flipelô, da literatura, de Graciliano e Jorge Amado, mas sem aquela festa do Pelourinho”, detalha, citando ainda a dificuldade de encontrar apoio para uma iniciativa virtual, menos atraente para patrocinadores.

 

 

FLIGÊ


Foto: Reprodução / Facebook

Lançada em 2016, na região da Chapada Diamantina, a Feira Literária de Mucugê (Fligê) também viu sua quinta edição — programada para 13 a 16 de agosto — ser impactada pela pandemia do novo coronavírus. A situação levou os organizadores a cancelar a edição presencial este ano, mas ainda sem excluir a possibilidade de uma versão virtual em novembro.

 

“Nós havíamos adiado para novembro, mas a gente tomou a decisão de não realizar presencialmente por causa de todo esse cenário da pandemia e a ausência de segurança sanitária. A Fligê tem um público cativo grande, cada ano se amplia, então na verdade a gente não teve opção, foi uma imposição essa decisão nossa de não realizar presencialmente”, explica a curadora, Ester Figueiredo, lembrando que o evento se desenvolve para além da data pontual da feira e que este ano também se dará nestes moldes. 

 

“A Fligê, desde a primeira edição, não é um evento só localizado na data de culminância, que sempre é em agosto. Ao longo do ano sempre são desenvolvidas atividades no município de Mucugê, no entorno da Chapada Diamantina, de produção do conhecimento literário. Então, em maio nós iniciamos com as tradicionais lives, com a participação de escritores e artistas que participaram de edições anteriores”, detalha o “Fligê na Quarentena”, lembrando que até então ainda havia a perspectiva da feira acontecer presencialmente.

 

Após a decisão de cancelar a versão original, os organizadores criaram mais um projeto, com início em setembro e foco no tema deste ano: “Literatura e Ancestralidade”. “A gente vai voltar novamente todos os contatos que estavam sendo feitos para a realização presencial, com a integração mesmo da literatura com outras artes. Estamos tentando inovar dentro desse cenário virtual, que seria ‘Trilhas Virtuais Fligê’”, conta Ester Figueiredo.

 

Com a expectativa de realizar um evento totalmente online este ano, a curadora lembra que a Fligê já teve algumas pequenas atividades na internet anteriormente, mas destaca a complexidade do novo desafio. “Lá na região de Mucugê existe a limitação de acesso ainda, precisa ter uma política pública para poder universalizar essas questões de acesso à tecnologia”, avalia. Ester pontua que uma programação mais robusta exigiria um aparato tecnológico mais eficiente que os celulares usados no “Fligê na Quarentena” e explica que o novo formato ainda está em fase de estudo, provavelmente concentrado em quatro dias de novembro, só “pra poder ocupar esse espaço já definido na agenda de eventos do estado da Bahia”.

FLIN


Foto: Reprodução / Facebook

A cena registrada em novembro do ano passado, com estudantes e amantes da leitura de todas as idades aglomerados em Cajazeiras, não vai se repetir em 2020. A Fundação Pedro Calmon (FPC) chegou a cogitar uma edição virtual para o Festival Literário Nacional (Flin), mas depois concluiu que isso “fugiria muito do objetivo” e resolveu suspender a segunda edição do evento.

 

“Nossa ideia é que o Flin seja realizado em agosto do próximo ano, no período relativo à celebração do Dia do Estudante, 11 de agosto, então a gente ressaltaria e aumentaria a ênfase do Flin ser um evento voltado para a juventude daquela região ali de Cajazeiras, que tem mais de um milhão de pessoas, mais de 20 escolas estaduais, com mais de 20 mil alunos dessa faixa do objetivo que a gente tem”, estima Zulu Araújo, presidente da FPC.

 

Para este ano, apenas o Pré-Flin está confirmado, intensificando o que foi feito na edição anterior, com uma série de atividades remotas que visam envolver a comunidade local com a literatura. O plano é realizá-lo em novembro, reunindo a produção dos jovens, que este ano, muito influenciada pela conjuntura, aborda também a pandemia do novo coronavírus e as consequências que ela trouxe para a comunidade estudantil e para a cultura, de forma geral.

 

Com isso, o evento principal fica para 2021, subordinado aos protocolos de segurança que venham a ser estabelecidos. Se possível, a FPC espera retomar o projeto original do Flin com espaço infantil, editoras, palco principal e feira de empreendedores.

 

 

FLIPF 


Foto: Mateus Pereira / GOVBA

Como outros eventos da Bahia, a Festa Literária Internacional da Praia do Forte (FLIPF) também precisou adiar sua segunda edição, que passou de 29 de abril a 3 de maio,  para o período de 11 a 15 novembro de 2020. O remanejamento, entretanto, não foi suficiente e a data terá que ser alterada outra vez. E há ainda a possibilidade de acontecer apenas online. 

 

“A gente teve recentemente a notícia de que as eleições foram também adiadas para esse final de semana que a gente tinha previsto a realização da FLIPF. Então, estamos estudando algumas possibilidades de pequena mudança de data, ainda para novembro”, explica a produtora Vanessa Vieira, uma das organizadoras da festa, destacando que tem sido levado em consideração também a agenda local, para evitar concorrência entre os eventos da mesma natureza.

 

Vanessa conta que a perspectiva é a realização de uma programação mista, com atividades presenciais e virtuais, mas ressalta que o clima de incertezas ainda é predominante. Ela admite a possibilidade de que em 2020 o evento tenha apenas em uma versão online, o que para a organização não seria o cenário ideal. 

 

“A gente está vendo de que forma conseguiria isso, mas ao mesmo tempo, relacionando a Praia do Forte, porque a gente sabe que o grande charme da Flipf é estar na Praia do Forte. Tem toda essa questão das belezas naturais, da relação com os projetos de conservação ambiental. Estar num evento literário na Praia do Forte é o nosso grande diferencial, então a gente está estudando essas possibilidades de, se acontecendo somente de forma virtual, como a gente fazer para transportar as pessoas para a Praia do Forte, para que elas se sintam mais próximas do local, da cultura, das pessoas, da comunidade, porque são muitas riquezas”, pondera. 

 

 

FLICAN

Foto: Reprodução / FPC

A situação da Festa Literária de Canudos também segue indefinida. O professor Luis Paulo Neiva, curador do evento, revelou ao BN que a projeção era de cancelamento até que foi procurado pela Fundação Pedro Calmon (FPC) na semana passada para compartilhar o que vinha sendo produzido e averiguar a possibilidade de realização de forma remota. “Eu imagino que tem alguém tentando fazer alguma coisa, mesmo que não seja algo no formato total, e que sirva de uma animação para o próximo ano”, afirma o professor, que espera conseguir viabilizar uma edição online.

 

Em 2019, primeiro ano da Flican, a festa foi realizada em quatro dias, com homenagens ao líder religioso Antônio Conselheiro e ao escritor Euclides da Cunha (veja aqui). Para este ano, um dos nomes cotados para homenagear foi o escritor paraibano Ariano Suassuna.

 

 

FLIU

Foto: Manuela Cavadas

Com as reuniões suspensas para respeitar as regras de distanciamento social durante a pandemia, a organização da Festa Literária de Uauá (Fliu) chegou a desistir da segunda edição do evento, marcada anteriormente para os dias 12, 13 e 14 de novembro. No entanto, uma esperança surgiu depois. 

 

Em mensagem enviada ao BN, o poeta Maviael Melo, curador da Fliu, disse que a equipe vai rever a decisão depois que alguns parceiros demonstraram interesse em apoiar uma versão online. “A gente está tentando ver como é que funciona isso. Até então, a gente tinha suspendido a festa pra fazer só ano que vem, mas surgiu aí a oportunidade de fazer uma festa reduzida, com as mesas importantes”, conta Melo. Para ele, é relevante realizar essa edição para que uma eventual “brecha” no histórico do evento não dificulte a captação de recursos para a Fliu de 2021.

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