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Ciro, Lula, o velho ACM e o possível remake de 2002

Publicado em: 03/11/2020

por Fernando Duarte

Ciro, Lula, o velho ACM e o possível remake de 2002

Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Separados por cinco eleições nacionais e muitos contextos diferentes, 2002 e 2022 parecem guardar semelhanças pouco explicáveis. Sim, estamos em 2020, porém o pleito de daqui a dois anos não sai do noticiário, seja por esforço do atual presidente da República, Jair Bolsonaro, que articula a reeleição a todo custo, ou por conta das conversas entre atores políticos expressivos na cena nacional. O grande exemplo disso foi a conversa divulgada na semana passada entre Ciro Gomes (PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já foram aliados e se tornaram “inimigos” na última eleição.

 

Ciro e Lula se enfrentaram nas urnas há 18 anos. À época no PPS, o cearense ficou na quarta posição, enquanto o pernambucano radicado paulista avançou para o segundo turno e venceu. Viveram altos e baixos na relação, até que houve o “rompimento” mais grave no processo eleitoral de 2018. Agora pedetista, Ciro nunca teve um temperamento fácil. Lula sempre buscou protagonismo nas relações. São fogo e pólvora que, a depender do uso, podem causar a própria morte ou a morte de outrem.

 

Rememorando o pleito de 2002, outro personagem da cena política acaba sendo uma espécie de elo entre os dois candidatos: o falecido senador Antonio Carlos Magalhães (PFL). Naquele ano, o cacique baiano começou com a expectativa de apoiar a correligionária Roseana Sarney, destroçada politicamente após um milionário cofre comprometê-la. Terminou conseguindo liberdade para apoiar Ciro no primeiro turno e, na sequência, migrar para Lula na disputa contra José Serra, na segunda etapa da eleição. A visão aguçada do Cabeça Branca o fez antever as nuvens contra a continuidade do tucanato no Brasil. O resto virou história.

 

Passado o recorte histórico, voltemos ao presente. Ciro é pré-candidato à presidência novamente em 2022. Costurou, junto com Carlos Lupi, a adesão do partido à candidatura do DEM em Salvador, com o aval e as negociações tocadas pelo neto do senador, presidente nacional do Democratas e atual prefeito da capital baiana, ACM Neto. O pedetista é um candidato natural ao Palácio do Planalto. ACM Neto é o candidato natural desse grupo político ao Palácio de Ondina. Juntaram a fome com a vontade de comer, ainda que neguem a relação planejada com antecedência.

 

Mestre da política, Lula se antecipou aos radicais do PT e sentou para conversar com Ciro. O ex-presidente reconhece com mais facilidade os sinais de que os petistas podem não ter espaço para enfrentar a reeleição de Bolsonaro – ainda que ele nutra a esperança de estar no palanque como candidato. Assim, parece surgir o embrião de uma ampla frente democrática, defendida publicamente por figuras como Rui Costa e Jaques Wagner. Que pode, veja só, colocar no mesmo palco político o herdeiro de ACM, que um dia ameaçou dar uma surra no petista. Será que ACM Neto vai reeditar o apoio a Ciro e Lula de tempos atrás como fez o avô?

 

Do episódio “a esperança venceu o medo”, o enredo da novela mudou um pouco. Os atores, nem tanto. Mesmo aqueles que já saíram do folhetim deixaram herdeiros. E o Brasil segue assistindo. Com uma falsa sensação de que algo mudou.

 

Este texto integra o comentário desta terça-feira (3) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: SpotifyDeezerApple PodcastsGoogle Podcasts e TuneIn.

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