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A REPÚBLICA DESABA – POR SAMUEL CELESTINO

Publicado em: 19/7/2015

por Samuel Celestino

Coluna A Tarde: A República desaba
Brasília chegou ao ápice da crise política neste final de semana. Crise que ainda poderá vir a piorar nos próximos dois meses, ou em prazo menor. A impressão que se tem é que a República desaba, desmorona, a partir dos novos fatos que emergem envolvendo a um só tempo Lula – o que já se imaginava que aconteceria –; o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, que supostamente teria recebido US$ 5 milhões; o senador Fernando Collor de Mello, cuja trajetória na política é marcadamente complicada; além de doleiros, delatores com novas revelações como se estivessem a abrir mais uma caixa de pandora às avessas. No final da manhã de sexta-feira, Cunha tornou a relação ainda mais complicada. Anunciou o rompimento com o governo e que passou a fazer parte da oposição.

Enfim, a situação do país é um misto de terremoto, tornados e vulcões, acontecendo tudo num só momento no Distrito Federal, diante da corrupção jamais vista  – presume-se – na história republicana. Trata-se de uma situação inimaginável que mergulha o país no avesso do avesso do avesso.

Dentre todos os medalhões, Dilma foi poupada desta vez, mas ela rodopia dando a impressão de que está fora da realidade. Passou a pronunciar frases ininteligíveis, como se estivasse completamente perdida dentro do seu imaginário. Que República afinal é essa? O que fizeram do país? O que ainda poderá surpreender os brasileiros? Seguramente, o governo de Rousseff está no seu pior momento e dá-se como certo o rompimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusado de ter recebido os tais US$ 5 milhões, com o Palácio do Planalto. Na verdade, a sua pretensão é que o rompimento vá mais além e atinja também o PT que forma com o PMDB as duas mais importantes legendas da base aliada. Será se acontecer, um baque fortíssimo para o petismo que está mergulhado de igual modo numa crise sem limites, agora atingindo o ex-presidente Lula.

Sobre o ex-governante existem suspeitas de que teria sido beneficiado pela Odebrecht, que bancara alguns das suas viagens ao exterior, com aviões e estadias, para “vender” a imagem da empreiteira baiana a alguns países, a partir do inegável prestígio de Lula. Os dois lados negam esta hipótese. Por ora não há nada que ratifique o envolvimento de ambos, pessoa física e jurídica. O impulso que o escândalo tomou nesta última semana leva a uma situação que, se já era esperada, seguramente não desta forma que ocorre. O que pesa sobre o presidente da Câmara, responsável pelas derrotas constantes de Dilma no Congresso, agora está fora do contexto do Congresso, na medida em que o lobista Júlio Camargo revelou que os cinco milhões de dólares foram pagos a ele, antes de comandar a Casa, dinheiro que seria utilizado na sua campanha eleitoral e proveniente de contratos com a Petrobras referentes a navios-sonda.

Em relação a Fernando Collor não há nenhuma surpresa. Há informações, ainda na condição de supostas, de que teria recebido propina de R$ 20 milhões, investigação que está na Lava Jato, mas chegará ao Supremo Tribunal Federal porque ele, como senador, tem direito a foro privilegiado. A invasão na terça-feira última do seu apartamento funcional em Brasília de 240 metros quadros, que não lhe cabia o uso por ter residência em Brasília, a Casa da Dinda, é mais uma de suas tramóias. O apartamento, segundo o Senado, só era utilizado “para encontros especiais”.  Na Dinda foram apreendidos três carros esportivos importados e confiscados, que o senador não teria (“esquecimento”) pago sequer IPVA. Há outras denúncias de recebimento de propinas feitas por doleiros de valores variados, que o complica e o coloca em situação de extrema dificuldade, além de ampliar a sua imagem negativa no país.

Para completar, sem que haja surpresa o fogaréu republicano, o lobista Fernando Baiano, que não fez delação premiada, seria sócio de Eduardo Cunha, na condição de sócio “oculto”. Que, por sua vez, responsabiliza o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, por suas agruras. Janot nega qualquer envolvimento no caso. Os dois são inimigos. A Operação Lava Jato conseguiu rastrear as contas de Fernando Baiano em paraísos fiscais, abertas em offshores e, por aí, há largas possibilidades de se chegar ao deputado Cunha.

Numa síntese, se é que ela é possível diante de tantas diatribes, há um incêndio amazônico que se alastra cada dia mais sobre a capital da República. O que não se pode digerir é que a presidente Dilma Rousseff  nada soubesse sobre os acontecimentos. O que agora se comprova também em relação a Lula. Ingenuidade inimaginável. Já não há como impedir o isolamento da mandatária e perda de prestígio do seu criador de imagem chamuscada. Tudo isso leva o fogaréu aos partidos políticos, especialmente ao PT. O que se há de fazer?
* Coluna publicada originalmente na edição deste domingo (19) do jornal A Tarde

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