PESQUISA ELEITORAL É O BOATO A FAVOR PARA QUEM ESTÁ NA FRENTE E CONTRA PARA LANTERNAS-POR FERNANDO DUARTE

As parcas pesquisas disponíveis para a campanha eleitoral da Bahia em 2018 mostram uma cena até então improvável: enquanto os liderados do governador Rui Costa (PT) comemoram os números, os aliados do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM) preferem criticar a metodologia aplicada para chegar aos percentuais. Em resumo, quando o levantamento é a favor, não há porque negar. Se for contra, melhor é questionar e fingir que os dados não correspondem à realidade.

O Ibope/ TV Bahia mostrou na última terça-feira (18) que o governador Rui Costa lidera a corrida com 60% das intenções de voto e pode liquidar a fatura ainda no primeiro turno. Os aliados do petista fizeram o esperado. Exultaram com a perspectiva de que o Correria pode encerrar o primeiro turno com a votação mais expressiva entre os candidatos ao governo em todo o país. Nas redes sociais, sobraram celebrações “ao resultado do trabalho” dos últimos quatro anos.

Pois bem. Há quatro anos, a situação era diametralmente oposta. O então deputado federal apresentava sucessivos crescimentos e apenas encostou no líder das pesquisas, Paulo Souto (DEM), às vésperas do primeiro turno – Rui acabou vencendo sem duas etapas. Quando ele estava atrás das pesquisas, os institutos que faziam os levantamentos não mereciam credibilidade e toda e qualquer estimativa de percentual de votos não era considerada real.

Parece que o jogo virou, não é mesmo? Em 2018, na condição de franco favorito à reeleição, Rui passou a não criticar as pesquisas. O governador prefere não comentar os números a favor, mas os aliados parecem “pinto no lixo” quando saem os dados. E o lado que ataca os levantamentos passou a ser o outro, do grupo político de Zé Ronaldo (DEM).

Nos últimos anos, apenas o Instituto Babesp pareceu acertar as tendências das eleições estaduais e municipais. Porém, depois que foi alvo de uma operação da Polícia Federal, a instituto ligado ao deputado estadual Marcelo Nilo (PSB) saiu de cena e restaram poucas opções. Uma delas, mais tradicional, é o Ibope Inteligência, que não acertou placares para o Palácio de Ondina desde 2006.

Por conta disso, os aliados de Zé Ronaldo e ACM Neto deveriam estar mais calejados. Paulo Souto perdeu em 2006 e 2014 depois de liderar com folga a corrida nos levantamentos prévios. Já ACM Neto perderia para Nelson Pelegrino a prefeitura de Salvador em 2012, de acordo com a pesquisa. Terminou vencendo e reeleito quatro anos depois.

Como patina nas pesquisas realizadas até o momento, a opção mais natural desse grupo político é questionar a metodologia. Afinal, ninguém quer perder por antecipação ou admitir que está na lanterna antes da corrida terminar, não é mesmo? Uma coisa é certa: pesquisa boa é boato a favor para não se negar, pesquisa ruim não é para ser levado em conta e, definitivamente, o mundo dá voltas.

Este texto integra o comentário desta quinta-feira (20) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.