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CORRENTINA:AOS 80 ANOS, CORRENTINA TEM ECONOMIA ALAVANCADA POR DISTRITO A 200 QUILÔMETROS

Publicado em: 25/4/2018

Importante rota produtiva da soja na Matopiba, o distrito de Rosário é a grande responsável pelo incremento do PIB da cidade que, em 10 anos, saltou da 20ª posição para a 11ª em âmbito estadual

Com 80 anos recém-completados, Correntina, no Oeste da Bahia, surgiu de uma vila usada como ponto de apoio para os bandeirantes que no século XVIII trilhavam o caminho do ouro no coração do Brasil. A cidade, que até os anos 80 possuía uma economia mediana movimentada, basicamente, por plantações de eucalipto e pela agricultura familiar, tem se reinventado economicamente graças ao seu Distrito de Rosário, que fica a 200 quilômetros da sede do município e está localizado na promissora Rota da Soja.

A exemplo de Correntina, Rosário também se desenvolveu, inicialmente, por ser uma rota de passagem. Desde 1985,  um posto de gasolina passou a ser ponto de apoio para pessoas que transitavam pela GO-020, que ligavam Goiás ao Nordeste brasileiro. Mas as semelhanças param por aí. Apesar da relação político-administrativa, as duas localidades têm perfis econômico e cultural bem diferentes.

Correntina tem uma vocação voltada ao turismo regional, graças aos vários rios que cortam a cidade e trazem uma abundância de água. Já o Distrito de Rosário, que tem alavancado o PIB da cidade, tem sido responsável pela geração de empregos e oportunidades de renda, tornou-se um polo do agronegócio, cujas terras têm uma das mais altas produtividades de soja do Brasil.

Nesse ano, a região que já colheu 60% da safra, de acordo com estimativa divulgada pela AIBA (Associação dos Irrigantes da Bahia) está obtendo a produtividade de 62 sacas por hectare, número acima da média esperada, que  variava entre 56 e 59 sacas. Ainda de acordo com o relatório apresentado, o aumento da produtividade se deu pelo clima favorável aliado a boa qualidade de sementes e a alta fertilidade do solo.

Foi a partir da década de 1980, com o início do aprimoramento das técnicas de cultivo e correção para o solo arenoso da região, que Rosário começou a mudar a história de Correntina e tornou-se o portal de entrada para a Matopiba, a terceira maior fronteira agrícola do Brasil.  Corredor produtivo ao longo dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, a Matopiba (junção das siglas das quatro federações) tem dimensão calculada em 414 mil quilômetros quadrados, quase o tamanho da Alemanha. Enquanto a média de crescimento da produção de grãos do país é de 5%, na região de Mapitoba esse número atinge 20% ao ano.

Hoje, o desenvolvimento agrícola de Rosário é responsável por 51,29% do PIB de Correntina, de acordo com os dados de 2015 do IBGE, percentual que vem aumentando ao longo dos anos. Em 2010, a produção agrícola só era responsável por 37% da economia da cidade. O crescimento refletiu diretamente no PIB per capito anual, que chegou a R$ 39.034 mil e fez com que Correntina saltasse da 20ª para a 11ª posição, em âmbito estadual em relação a pesquisa anterior.

Rosário faz por Correntina o que o setor agropecuário está fazendo pelo Brasil. De acordo com dados do IBGE, em 2017 o setor agropecuário teve com a melhor contribuição para o PIB desde 1996. No ano, o crescimento registrado pelo setor agropecuário foi de 13% e foi responsável por  70% do crescimento do PIB no ano passado, enquanto a economia brasileira teve crescimento 1% abaixo do esperado.

Diferenças

Com mais de 33 mil habitantes, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Correntina é conhecida por sua tradição cultural e é referência de destino turístico na época de carnaval, atraindo pessoas do entorno e de estados vizinhos.  Rosário, por sua vez, tem menos de seis mil habitantes, um povoado pequeno, mas repleto de singularidades. Seus moradores são, na maior parte, migrantes, especialmente [mas não exclusivamente] do Sul do País, que começaram a se fixar na região por volta dos anos 1980 em ato de coragem e empreendedorismo em busca de novas áreas para cultivo.

 

A distância de 200 quilômetros do município sede forçou que o distrito buscasse sua própria autonomia. Ele começou a se desenvolver a partir de um posto de gasolina, rota de passagem de quem vinha de Goiás rumo ao litoral baiano, mas hoje se tornou um polo do agronegócio e conta com infraestrutura que outros povoados da mesma dimensão não tem: escolas, hospitais privados restaurantes, hotéis, supermercados. Abriga 10 concessionárias de caminhonetes, máquinas e autopeças agrícolas, além de lojas de defensores. Aos poucos, o desenvolvimento vem se instalando e a região vem recebendo investimentos imobiliários com o lançamento de loteamentos, parques aquáticos.

Nelson Stimer, de 62 anos, vivenciou o início dessa história. Em 1986 deixou sua cidade natal, Cascavel, no Paraná, para mudar para Rosário. Comandava uma frente de trabalho para a Eletroluz – companhia energética de sua cidade – havia adquirido três mil hectares de terras naquela região da Bahia com objetivo de testar o cultivo da soja. Quando chegou, sua missão era desmatar o cerrado virgem para formar a área para plantio.

Ele não estava sozinho. Nessa época, uma grande migração estava acontecendo para a região ainda virgem. “Os fazendeiros paranaenses ficavam ‘enlouquecidos’ ao ver o solo tão plano e uma região com bom regime chuvas, intercalado com seis meses de seca, o que era ideal para a soja”, relembra. O solo plano proporcionava um melhor rendimento das máquinas, o dobro do que acontece em regiões de planície como no Paraná, calcula Stimer.  Além disso, potencializava a absorção de fertilizantes e adubos para corrigir sua característica arenosa e pouco produtiva.

“Os sulistas, que tem tradição no cultivo e buscavam expansão, começaram a arriscar. Havia muitos motivos para dar certo e, caso não desse, o prejuízo não seria tão alto porque a terra era muito barata”, conta ele que hoje tornou-se corretor de imóveis, depois de trabalhar por 15 anos na administração da fazendo que o trouxe para Bahia.

“Na época, brincava-se que as terras custavam um pouco mais que um guaraná. Mas, falando sério, com a venda de 10 alqueires no Paraná, comprava-se mais ou menos 1000 alqueires por aqui”, calcula.  Hoje, esta conta é bem diferente. Uma fazenda produtiva em Rosário tem preço estimado de 500 sacas de soja por hectare. “Trocando em miúdos, com uma venda de 10 alqueires no Paraná, compra-se no máximo um sítio com 20 alqueires aqui”, diz ele, que avisa: está bem difícil encontrar terras produtivas à venda.

Voltando aos primórdios, os fazendeiros fizeram suas apostas e, já na primeira colheita, perceberam que valeria a pena continuar. “Foram experiências, houveram perdas, mas percebia-se que valeria a pena continuar”, relembra Stimer. A fazenda onde ele trabalhava, se tornou uma grande produtora de soja, com sementes que são vendidas para todo o Brasil, as primeiras colheitas eram de 20 a 25 sacas por hectare. Hoje, a produtividade mais que dobrou.

A soja tornou-se uma a principal cultura da região: são cerca de 371 mil hectares plantados, conforme a Associação dos Produtores de Soja no Brasil (Aprosoja), e com produtividade acima da média nacional.  Mas há destaque também na produção de milho e algodão.

Quem está à espera de bons números na safra deste ano é um dos pioneiros do agronegócio em Rosário, o produtor Paulo Frasson, que está na região há 27 anos. Com a colheita já iniciada, ele tem atingido uma média de 65 sacas por hectare plantados.  Na propriedade de Frasson, foram plantados este ano 3.800 hectares, que devem gerar uma média 247.000 sacas no total.

Gaúcho, foi outro que resolveu arriscar nas terras baratas no Oeste da Bahia dos anos 1980. “Tudo estava começando. Percebi que era o momento e o local certo para investir, dedicar meu trabalho e começar a minha vida”, disse ao recordar que, no começo eram muitas dificuldades enfrentadas para produzir na região. “Não tínhamos estrutura, não tínhamos estrada. Era difícil a chegada de insumos para a produção e mão de obra”, relembra.

O produtor  conta que hoje  a realidade é bem mais animadora. Na fazenda de Frasson, como em todas as outras de grande produção de soja, a safra é totalmente mecanizada. São utilizados equipamentos de ponta e são oferecidas oportunidades de trabalho para uma mão de obra mais especializada e qualificada e, portanto, com melhores salários.  Atualmente, o produtor emprega 15 pessoas de forma direta e outras cerca de 60 de maneira indireta.

O distrito de Rosário também atraiu pessoas que não estão diretamente ligadas ao agronegócio, mas acreditaram no futuro promissor da região.. Uma delas é a paranaense Rosângela Martins, que trabalha no departamento  financeiro no Posto do Rosário desde 1988. “Quando cheguei aqui, só existiam as casas dos funcionários do posto e mais duas ou três casas”, lembra.

Rosângela relata que foi muito desafiador aceitar a proposta para deixar Cascavel, que na época já era uma cidade estruturada e vivia anos de ouro na economia, para mudar para Rosário. “Eu trabalhava no escritório de contabilidade que atendia o grupo Rosário e recebi uma proposta que financeira e profissionalmente seriam melhores. Era a oportunidade de começar uma nova história”, lembra.

Ele conta que, em um ritmo bastante acelerado, surgiram casas, pessoas novas, negócios. O próprio posto, onde ela trabalha, cresceu e virou uma referência para a região. No início, tinha apenas 8 bombas. Hoje ele concentra hotel, restaurante, borracharia, oficina mecânica, auto  elétrica, loja de acessórios/lubrificantes, loja de conveniências, mercado, serviço de transportes, banho para motoristas, churrasqueiras externas. Para atender tudo isso, ele emprega 120 pessoas diretamente, sendo o mais estruturado ponto de parada para quem atravessa o interior da Bahia, vindo de Goiás.

Extraído de O EXPRESSO LEM

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